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MadSeason ou a “Louca Temporada” é a época em que os fungos alucinógenos crescem em Surrey, Inglaterra. Nesta época, os moradores desse lugar começam a deambular, feitos loucos, tentando colher estes tão prezados fungos. Pearl Jam fez a mistura do seu primeiro álbum neste lugar e Mike Mcready nunca se esqueceu deste termo, devido a que lembrava-lhe parte do seu passado que estava cheio de lembranças de abuso de álcool e drogas. Porém, por 1994, Mike já tinha se reabilitado. Seu processo de sobriedade foi realizado no Centro de tratamento de Dependentes “Hazelden” de Minneapolis. Na época, passava ali também um tempo recuperando-se, John Baker Saunders, quem vinha de Chicago e tinha um grande background de Blues. Ambos consideram como companheiros de quarto e foi justamente ali, nesse centro, onde convergiram as mentes destes dois grandes músicos. As conversações sobre Blues e a paixão que ambos os músicos sentiam por este gênero acendeu o fogo de McCready para iniciar uma banda de Heavy Blues. “Volta comigo a Seattle. Verei que tenhas um lugar onde ficar e iniciaremos esta banda. Vamos nos manter ocupados e nos apoiar um no outro” - lhe disse a Baker - e foi assim como retornaram juntos. 

 

Barrett Martin, baterista de Skin Yard e Screaming Trees foi contatado por Mike para gerenciar a seção rítmica em conjunto com Baker e como Screaming Trees não tinha nenhum compromisso, aceitou sem duvidar. 

Above

Além de Above ser uma amostra perfeita da grandiosa sinergia de 5 grandes músicos, o álbum da capa de tinta e traços branco e preto, é reflexo dos pensamentos totalmente honestos e nus de um ser humano sobre saliente. É o livro que todos quisemos ler, escrito por o seu próprio protagonista. Above é a autobiografia; um grande presente músical e o legado espiritual do mais grande: Layne Staley

Porém, faltava uma peça fundamental para qualquer banda de Blues que aprecie-se de tal; uma voz comovente e por sobre tudo, com muita alma. Foi então que McCready pensou só em: Layne Staley. 

 

Layne encontrava-se recluso em casa e tinha como companheiro de apartamento a seu amigo Johnny Bacolas. O mesmo Layne tinha lhe pedido que fosse morar com ele e Johnny pensava, que estando 24/7 do lado de Layne poderia ser de muita ajuda na angustiante cruz que Layne carrevaga, a pesar de todas suas tentativas por reabilitar-se. 

 

Layne sentia-se esgotado de Alice in Chains e da vida na estrada, bem no momento em que nossa querida banda estava tendo o maior sucesso. O ultimo grande revés foi o cancelamento de ultima hora, do tour com Metallica, o que provocou nele um sentimento de afastamento do estilo de vida louco do rockstar e decidiu passar os seus dias em um estilo bem mais repousado, dedicando mais tempo a suas outras paixões como eram a leitura, as artes plásticas e a poesia.

Contudo, ele não contava com uma ligação que o faria mudar de opinião. Johnny Bacolas refere-se a essa ligação: “Layne nunca respondia o telefone e nunca abria a porta quando alguém tocava. Se você ia vir em casa, deveria avisar que vinha. Mike ligou e falou comigo e foi mais ou menos assim: Amigo, queria ir ai, passar um tempo e cumprimentá-los. Acabei de sair de reabilitação e tive uma idéia para a banda - Falei com Layne e disse: Hey man! McCready está ligando. Ele é um cara muito  bom e quer conversar contigo. Está sóbrio – Fui eu quem deixou McCready entrar em casa e ele tocou para Layne algumas músicas”.

 

Foi assim como Layne integrou-se à banda e começaram a realizar vários ensaios que resultaram bastante bem. Durante o processo de criação de Above, Layne regressaria a Hazelden um par de vezes motivado pela insistência de McCready que realmente queria ajudá-lo no seu processo de reabilitação. Contudo, nenhuma destas tentativas teve sucesso. Layne retornara sempre aos dois ou três dias de ter saído do Centro. McCready, a pesar de tudo, continuava a apoiá-lo, e passava junto com Baker para conversar um pouco e tomar grandes xícaras de café. Assim que Layne acordava, ia falar com eles e de forma espontânea McCready estava tocando algumas idéias que compartilhava com ambos.

Aquelas sessões de jammeo e criação resultaram ser bastante ecléticas, o que deu em alguns rascunhos de músicas bastante bem desenvolvidos que decidiram apresentar em três shows secretos no famoso “Crocodile Café” quando nem sequer usavam ainda o nome de MadSeason. O nome da banda nessa época era “GacyBunch”, uma combinação de uma sitcom dos anos 70 chamada “The Brady Bunch” com “ John Wayne Gacy”, um dos maiores assassinos em serie que teve a historia de norte America. 

 

Estes shows provaram ao vivo como funcionavam as músicas e a resposta do publico com relação a esta banda músical que se diferenciava das bandas da explosão grunge de Seattle.

 

O comportamento de Layne deixou uma marca na dona do lugar, Stephanie Dorgan: “tive a chance de ver a Layne Staley com MadSeason tocando aqui. Não gosto de fofocas sabe? Mas tudo isso sobre o consumo de drogas ou de que ele é pouco colaborador me incomoda muito, porque quando MadSeason fez um show aqui, Staley foi muito educado. Muitas bandas tocam aqui a cada noite. Todos eles são grandes pessoas e é impossível lembrar de cada um deles, mas Layne Staley é o rapaz mais doce que já conheci”

Entre as músicas que foram apresentadas nos shows do “Crocodile Café” encontravam-se I Don´tknow Anything, River of Deceit, November Hotel, Artificial Red, Wake up, AllAlone e uma sem nome, que se conhece desde essa época como Jesusathon.

 

Na véspera da virada de 1995 apresentam-se em RKCNDY e estréiam uma música composta recentemente chamada “I’m Above”. Para esse show e essa música em particular, apresenta-se Mark Lanegan para cantar em dupla com Layne.

 

A historia conta que os guardas não permitiram o ingresso de Lanegan porque não acreditaram que iria cantar na banda. Com isso o estréio de I’m Above teve que ser cantado de forma integra por Layne.

Finalmente, a ultima apresentação antes de gravar o álbum aconteceu em casa de Eddie Vedder, onde tocaram Life less Dead e I don’n know anything, na transmissora de radio conhecida como “Self-Pollution Radio” na que qualquer radio que quisesse, poderia fazer um “gato” da transmissão, o que assegurava uma cobertura muitíssimo maior.

 

Isto, e os shows que já tinham realizado fizeram com que a banda fosse conhecida e os levou a mudar de nome para “MadSeason”. Desta forma, a banda já se encontrava o suficientemente consolidada para gravar um álbum.

 

Brett Eliason, o legendário produtor de álbuns de Pearl Jam, foi o encarregado de gravar, produzir e misturar o primeiro e único álbum de MadSeason, em conjunto com a banda. Layne foi o encarregado de dar vida às letras e à arte do álbum com total liberdade, coisa que nunca tinha acontecido na sua carreira com Alice in Chains. Na época, Layne passava por um período de introspecção e autoconhecimento o que levou a reluzir toda sua espiritualidade neste álbum (ver notas anexas escritas por Barrett Martin que complementam esta informação).

As sessões de gravação foram realizadas com relativa tranqüilidade, embora Layne continuasse com sua terrível doença e lhe fosse muito difícil seguir o ritmo acelerado das gravações. Contudo, ele encontrava-se, talvez, mais feliz que nunca em termos artísticos; tinha plena liberdade e sentia total orgulho do que estava fazendo. Johnny Bacolas disse: “Ele chegava em casa por volta das 4 da madrugada, ascendia o estéreo e arrebentava o som que estava no meu quarto só pra me acordar e ouvir as novas músicas que ele tinha esboçado. Ele sempre queria aquele tapinha nas costas ou aquele “Hey, ótimo trabalho!.”Eu me levantava totalmente sonolento ou pesaroso do meu quarto, ouvia e lhe dizia: “Fuck, esse som é assassino!”e ele simplesmente ia pro sétimo céu. Isso era o que lhe fazia feliz; o fato de criar música”

 

O álbum ficou pronto em quase um mês e meio e o 14 de março de 1995 saíram à luz estas dez maravilhosas músicas muito diferentes do estilo reinante nas bandas de rock da época.

 

O ambiente do álbum começa calmo, com suaves e profundas linhas do baixo de Baker que conjuntamente com as batidas suaves do xilofone por parte de “Nádegas sem carne”, músico com orientação para o jazz da cena de Seattle, começam a criar uma atmosfera com uma dualidade impressionante, ambiente sigiloso porém inquietante. Mike deixa o caminho aberto com sua elegante guitarra para que Layne comece a cantar. Wake Up nos fala de um relacionamento sem sentido que deve ser resignado para estarmos melhor com nós mesmos (Wake up Young man, it's time to wake up / Your Love affair has got to go). De alguma forma Layne sente-se preso. Sabe que existe algo enfermiço neste relacionamento, e fala muito com ele mesmo dando-se valor e levantando sua própria auto-estima (You're not a crack up / Dizzy and weakened by the haze / Moving on ward / So aninfection not a phase). É difícil elucidar se Layne refere-se a uma mulher (Demri) ou à heroína neste relacionamento. A voz nua, sem artifícios de nenhum tipo de Layne faz com que a atmosfera torne-se meditabunda até que a música começa a subir em intensidade com desoladores gritos de Layne, tendo ainda a poderosa bateria de Martin e o só de antologia de McCready.... para de repente... volver à densa calma. Uma verdadeira maravilha este início. 

 

Tambores tribais, guitarras com efeitos psicodélicos, transportam-nos para os finais dos 60 e inicio dos 70. X-RayMind é uma música bastante atípica. As vozes de Layne estão duplicadas emulando uma das características principais do som de Alice in Chains, embora apresente uma dissociação intencional bastante notória em relação como o tempo da música. É só no momento do coro que a música se transforma em uma de rock clássico convencional. As letras, com isso, desafiam as estruturas convencionais de composição. Um exemplo claro é o primeiro estrofe onde a metade dela é ocupada por uma única pergunta (Do thelaughs die when / Onesuch as I run / And allowmyself / Time forown true needs?.) A música fala de um relacionamento turbulento, onde as criticas são evidentes. Uma música inovadora em muitos aspectos. 

River of Deceit é uma música realmente linda e esperançosa em todos os sentidos. A guitarra de McCready vive por si só, tem alma própria e a profundidade de Baker com o baixo faz desta balada uma cheia de soul e emotividade. Layne faz o reconhecimento do sofrimento que o oprime devido à sua doença, inspirado pela recente leitura do livro “O Profeta” (My pain is self chosen / At least, so The Prophet says), faz com que sintamos o peso dos erros cometidos (A head full of lies is the weight, tied to my waist) e finalmente libera-se no meio do rio, ou pelo menos esse é o desejo que plasma na letra seguinte (I coulde it her drown / Orpull off my skin and swim to shore / Now I can grow a beautiful Shell for all to see). Beleza pura.

 

Mark Lanegan participa em I’m Above nas vozes junto com Layne. Uma música que é rock simples e direto com letras que fazem alusão à raiva que sente Layne da sua mulher (Demri de novo?) (So you rely on my faith in your kind / Or rather continue to pretend that I'm blind / You say I made your life a living hell / And yet still let me pay you when I fell). O ultimo estrofe termina com uma frase que diz tudo (I desire peace where I live). 

Artificial Red é um blues puro. A banda apresenta suas credenciais com maestria enquanto Layne nos fala da “casa de duvidosa reputação”. “É este o lugar para procurar o amor?” Layne mostra-se perdido de alguma forma, uma vez que termina com o seu antigo amor. 

 

Mais uma vez, o tormento amoroso se apresenta. O riff inicial de McCready é imenso. Lifeless dead é uma música parecida ao trabalho de Layne em Alice in Chains em termos musicais, vozes superpostas e gritos desoladores para expressar um sentimento de dor extrema onde o “demônio” que persegue a Layne faz sua aparição mais uma vez (She was gone and so he wept / Then a demon came to him/ "You must know I'm gonna win") E lamentavelmente, foi assim.

 

I don’t know anything é uma música sabbathica, com um riff pesado onde o mesmo Layne faz questão de mostrar sua grande habilidade como guitarrista. As letras falam de questões que todos os seres humanos alguma vez pensamos em momentos de reflexão (I don´t know anything / Why we have to live in so much hate everyday? / why the fighting and the coming down, Am I sane? / I don´t Know).Vozes sobrepostas novamente onde destaca de forma notável a performance de Barrett Martin na bateria, conseguindo sons que emulam o funcionamento de uma fábrica de produtos metálicos. 

A continuação encontramos uma música que conforme o meu juízo pessoal é a jóia do álbum. Em Long Gone Day conjugam-se todos os aspectos que fazem de MadSeason uma banda única. A música explode em total diversidade, com uma mistura de instrumentos como o contrabaixo de Baker, o xilofone e saxofone de Nádegas sem carne, a voz aveludada de Mark Lanegan e o vibrato de Layne,  fazem deste registro uma música com tildes de jazz-fusião. É uma evocação a uma lembrança nostálgica, em tempos que todo estava bem  (See you all from time to time / Isn't it so strange / How far away we all are now / Am I the only one who remembers that summer? / Oh, I remember / Everyday each time the place was saved / The music that we made / The wind has carried all of that away). Ao finalizar, Layne suplica a Deus para devolve-lo a esses dias (I fear again, like then, I've lost my way / and shout to shout to God to bring my sunny day).

 

Krisha Augerot, assistente de Kelly Curtis, manager de Pearl Jam, foi uma das pessoas que participou nesse verão inesquecível para Layne: “nas notas do álbum disse algo como “sempre vou lembrar-me desse verão”, que foi o verão onde todos fomos juntos à praia e fizemos muitos churrascos. Esse tempo de juventude cheio de frescor que todos tivemos antes da chegada das drogas. Mencionou alguns nomes aí – acho que menciona o meu, Demri e outra menina chamada Fabiola, quem era muito amiga de ambos. Sei que significou muito para ele todo esse período.”

 

 

November Hotel é uma instrumental que parte com ritmos tribais a cargo de Barrett Martin. Têm também bongó e timbais que simulam um ritual chamánico, a guitarra de McCready acompanha com notas suaves até que explode com um magnífico efeito de wah. A música desenvolve-se num constante in crescendo que parece levar-nos para uma paisagem selvática, úmida e cheia de chuva. McCready é o amo e senhor nesta peça logrando que a música nos submeta em um trance profundo e catártico, onde a guitarra adquire um rol protagónico, cheio de feeling e soul num descontrole-controlado. Dura 7 minutos mas a verdade é que parece curta.

 

O final do álbum é um registro charmoso que de algum modo nos faz lembrar a “Release” de Pearl Jam. A voz de Layne é pureza, claridade e calma. All Alone é um fechamento perfeito para um álbum de características notáveis. Satisfação, paz, tranqüilidade é o sabor de boca que fica ao finalizar a música. 

 

Above é um álbum único para sua época. E mais ainda, para as que a seguiram até o dia de hoje. Alem do musical nele, o que finalmente fica é a vibração espiritual, honesta e às vezes vulnerável das idéias aqui plasmadas. Portanto, o álbum nos mostra a alma do homem, sem maquiagem nem máscaras. Só o talento de uma voz que penetra cada fibra, às vezes com dor, às vezes com calma. Na historia da música do rock existem bons álbuns, grandes álbuns e obras maestras. Porém uma obra de arte, além de um gênero em particular, é talvez um degrau difícil demais de subir para muitos. Não para Layne Staley, quem a pesar de não estar mais na terra, nos entregou a cada um de nós um pouco de sangue nesta grande obra. Graças a este álbum, Layne vive em cada um de nós. 

 

Articulo: Schulz

Traduzido porAlexandre Barbosa

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